terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O QUE EU NÃO GOSTO É DE PESSOAS TÉPIDAS

Poderia começar como a Adriana Calcanhoto na canção "O que eu não gosto é de bom senso..."
Eu sou do tempo em que havia silêncio, mas esse mundo acabou com o tempo.
Hoje o silêncio, falo do verdadeiro silêncio, compra-se.
Pertenço ao século passado, ao século em que as pessoas lutavam por causas e possuíam ideologias, em que não havia as audiências e os espectáculos oferecidos ao público não passavam somente pelo sofrimento, tristeza ou alegria para os espectadores se converterem à sensibilidade do choroso ou do alegrinho.
Não gosto de pessoas que assistam à ruína do seu mundo e ruam com ele.
Não gosto de virtuosos e pálidos de feito, não gosto.
Não gosto de gente perversa, enfeitados daquela perversidade em que aceitam as coisas como elas são, mas preferem vê-las de longe para poder irritar-se a seu bel-prazer.
Não gosto dos ricos que não têm livros e quase todos não os têm.
Há pessoas da minha idade que são autênticos Matusalém, o tal avô de Noé que viveu 969 anos e que se limitam a contabilizar o dia-a-dia, eu só tenho 899,  ainda não atingi a  tal identidade.
Gosto de paixões, de beleza. Não gosto de acompanhar na televisão os negócios da pátria.
É difícil distinguir, a partir duma certa idade, o que é hábito e o que é vício, eu sei.
Não gosto de conselheiros para assuntos gerais.
Gosto de quem não ache que está condenado ao cativeiro por estar sentado numa biblioteca rodeado de livros ou numa paisagem rodeada de natureza.
Gosto de pessoas que gostam de dar cor a um quotidiano com demasiados laivos de cinzento.
Gosto de palavras antigas.
Gosto da ruralidade e de cidades.
Não gosto de alarves, dos que têm tendência com o seu riso para conquistar o mundo, mas o que eu não gosto é de gente tépida, não gosto.

5 comentários:

GL disse...

Aqui não há possibilidade de contraditório, salvo para aqueles que gostam de gente que perdeu a sua verticalidade - se é que alguma vez a teve! - gente que vive uma vida ficticia, sem sonho, sem ambições, sem respeito por si e pelo Outro. Gente amorfa, que se limita a passar pelo mundo de forma tristinha, tão tristinha!
Beijinho.
P.S. Sinto falta do meu companheiro diário, aquele que me leva voando acima de toda a mediocridade.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Boa tarde GL. Não consigo colocar fotos. Hoje era para ser a gaivota sorridente, mas já tentei várias vezes sem qq êxito. beijinho e obrigada

Helena disse...

Acho que houve um problema com o blogger na publicação de imagens. Já não é a primeira vez e costuma passar ao fim de pouco tempo.

Quanto as coisas/pessoas de que não gostas, estou contigo. Somos mesmo homónimas nisso.
Já me falta a paciência para tanta indignação de sofá, para tão pouca verdade nos dias, para a dissimulação, o cinzentismo, a preguiça para pensar.
E depois há uns dias assim, em que tudo nos parece impróprio.
O pior é que não é uma sensação passageira, dela vai sempre ficando um pouco mais de descrença na humanidade, que parece só ter por qualidade ser biodegradável.
Sim, eu sei que estou a repetir-me. Coisas de velha...

Helena disse...

Acho que houve um problema com o blogger na publicação de imagens. Já não é a primeira vez e costuma passar ao fim de pouco tempo.

Quanto as coisas/pessoas de que não gostas, estou contigo. Somos mesmo homónimas nisso.
Já me falta a paciência para tanta indignação de sofá, para tão pouca verdade nos dias, para a dissimulação, o cinzentismo, a preguiça para pensar.
E depois há uns dias assim, em que tudo nos parece impróprio.
O pior é que não é uma sensação passageira, dela vai sempre ficando um pouco mais de descrença na humanidade, que parece só ter por qualidade ser biodegradável.
Sim, eu sei que estou a repetir-me. Coisas de velha...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

o meu blogue está tolinho de todo,
não consigo praticamente trabalhar nele. Bom, obrigada por terem vindo cá à casota e beijos para as duas