sábado, 18 de janeiro de 2014

OS INFELIZES

da série: retratos empíricos

Poderia escrever sobre os felizes ou melhor dizendo, sobre os não infelizes, mas desses não reza a história.
As pessoas infelizes fazem-nos mal e são más pessoas.
São pessoas que ficam comidas como paredes nas caliças.
Parecem-se com as outras, não aparentam quaisquer sinais exteriores reveladores.
Fingem que são iguais às outras, fingem até para elas próprias e por vezes até são sinceras.
O pescoço une-se ao corpo como nas outras.
São egoístas e concentradas em si mesmas, mas à primeira vista até parece que não, chegam mesmo a parecer o contrário disso.
São invejosas e medianamente agressivas, chegando até a ser muito agressivas. Inicialmente são quase sempre muito simpáticas.
Se fôssemos Camilo Castelo Branco, diríamos que são morgadas/os sem morgadio.
Julgam-se vítimas, por isso fazem dos outros vítimas e coitados dos que se colocam a jeito.
Alimentam-se da infelicidade dos outros. Quando vêem alguém feliz, tratam de o/a deitar abaixo.
Normalmente só gostam de gente que consideram inferior a eles/as, por um motivo ou por outro.
Podem ser gente sofrida, mas também podem não ser, nem sempre os que mais sofrem são os que mais fazem sofrer.
Costumam usar o sorriso para esbofetear e são muito ambiciosas, de uma maneira geral.
E a cereja em cima do bolo, é mesmo quando apanham uma presa. Quando alguém a quem invejam, fica ao seu alcance, tudo fazem para transferir uma parte da sua infelicidade para o outro.
Não raro, usam a mentira como verdade universal, ao ponto de acreditarem na própria mentira.
São insolentes quando usam da confiança das presas.
Por muito que se queira ter uma vida agasalhada e cordata, mesmo que se já esteja numa idade feita para o descanso, quando se encontram pessoas destas pela frente, nem que nos munamos de muitas garrafas de águas das pedras, estaremos completamente a salvo.
Duma outra maneira dito e muitas vezes por mim repetido: pessoas infelizes = pessoas maldosas, logo há que nos afastarmos delas, se pudermos claro, mas nem sempre o diagnóstico é fácil de fazer nem o processo de cura,  de se cumprir.

4 comentários:

GL disse...

Perante uma pessoa infeliz quantas vezes surge a interrogação: porquê?
Há as infelizes porque a vida lhes foi/é madrasta, porque sofreram desgostos imensos, mas também há as que vivem as mesmas situações e não tem essas manifestações. Perante isto, dito de forma muito sintetizada, a questão: onde acaba o patológico e começa a pura maldade? Nascemos infelizes ou tornamo-nos infelizes?
A infelicidade gera maldade, inveja? O/a infeliz sente-se definhar perante a felicidade do outro? Uma coisa é certa. O infeliz é como a erva daninha, seca tudo à sua volta.
Abraço.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

"A infelicidade gera maldade, inveja?", é isso que penso efectivamente, GL

riadomar disse...

Os infelizes são perigosos. Porque são, geralmente, perversos. Que sugam o outro. Que julgam. Que cercam. Que ferram os dentes e não largam, até fazer muito sangue. São centrados. São babados pela sua infelicidade - e ai de quem se meter nela! Os infelizes não se emendam. Não há nada a fazer. Ficam impantes nas suas palhas, que cheiram a lágrimas de crocodilo. Sim, tens razão, há que fugir a oito pés e não olhar mais para trás. E reler este texto, sempre que um nos andar a perseguir, o que é muitíssimo usual.
Teresa Soares

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

obrigada Teresa pelo complemento :)