sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

UM DIA DE CADA VEZ

Agora entendo o que as pessoas me querem dizer quando me falam assim.
É uma espécie de escreverem num diário juvenil "coisas para fazer" e no primeiro item coloquem "um dia de cada vez". É assim como me dizerem: já não tenho idade nem saúde para grandes esforços de mudança umas e outras, já aprendi que tudo pode acontecer num instante, num dia.
É difícil exorcizar da vida tudo quanto se interpõe entre nós e os nossos planos.
O envelhecimento dá-nos alguma mais valia, sem dúvida. Há quem, eufemisticamente, prefira chamar-lhe maturidade, mas a  maturidade carrega consigo, o envelhecimento.
Por exemplo: saímos para a rua com a agenda preenchida, mas o que nos acontece, não raro, é o inesperado quer para o bem quer para o mal.
Alguns chamam-lhe o acaso, outros a esperança, outros a sorte outros ainda, a magia da vida.
Mesmo para aquelas pessoas que se resignam estoicamente a que nunca nada aconteça, ajudadas por uma desencantada ironia que impregna a sua visão do mundo, mesmo para essas, acontecem coisas.
Há sempre inesperados e os "sábios", aqueles que sabem disto, sabem que cortejar o inesperado, nem sempre dá resultado, mas que há dias em que parece ilimitado mesmo que ainda se encontre naquela fase de cidadão indignado que no nosso caso português e pertencendo a esta Europa corrupta, se prolonga quase até à morte.
A descoberta pessoal pode ser um drama, mas também é um acto de liberdade.
Descobrir, por exemplo, que aquilo que não tens, não te faz falta. Não é fácil esta descoberta, mas quando se descobre é, igualmente, uma libertação.
As descobertas não se fazem por ter lido uma série de teorias, mas também. Trata-se dum momento mágico, um clique.
Vivemos épocas das nossa vidas em que estamos na ribalta, em que não recuamos perante nada e temos a razão do nosso lado, tudo é um alvo; estamos ao ataque; e  nós, e só nós, temos razão.
Mas de um momento para o outro,  subitamente, há um lampejo de sabedoria e eis que de novo se reafirma uma força impulsionadora.
Por exemplo: quando visitamos uma cidade, que pode muito bem ser a nossa, assimilamos as  ruas através dos  cinco sentidos e em miríades de pensamento, sentimos as cidades e as pessoas que nelas habitam como se tudo= esta força gravitacional já estivesse dentro de nós, mesmo antes de as vermos.
Sabedoria, um constructo, um substantivo abstracto difícil de definir.
Este substantivo, tal como a inteligência, não são fáceis de definir, já não falando como o Piaget dizia se adquiriram  o raciocínio abstracto ou  apenas possuem o concreto.
Há quem saiba o que é e quem não saiba e, nada tem a ver com os significados dos dicionários. Mais uma vez me refiro ao clique, ao momento mágico, àquele em que cada um de nós descobre por si próprio, do que se trata.
Mais um exemplo e por hoje termino bloguinho, que me esqueço que estás editado e que a vida não és só tu. Hoje confesso-te ficava aqui toda a manhã ou mesmo todo o dia, mas continuando com o exemplo de que te falava: eu diria que sabedoria é perceber que nos enganamos nove vezes em cada dez.
Sabedoria é viver um dia de cada vez, fazendo a síntese do passado, presente e futuro.


Ai bloguinho, este tema é um dos que merecia o contraditório. Eu sei: não fizemos nada para que isso aconteça, um pouquinho de "mailing" talvez,  às vezes faz falta, não é? Mas pensando bem, ninguém lê ninguém.

4 comentários:

Helena disse...

É verdade que ninguém lê ninguém, mas às vezes lá acontece um alguém ler outro alguém. É um dos tais "inesperados"...
Sobre o que escreves, eu só sei que nada sei, mas essa coisa de um dia de cada vez deixa-me a sensação de que se foi toda a capacidade de esperança, substituída pelo nada desejar.
Ná! Não comigo!
Não gosto desse muro delimitando horizontes, que os quero largos, mais largos ainda que os meus, que nada sei.

Beijos e bom ano, com vários meses de cada vez. Pelo menos.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Que bom ouvir alguém tão positivo. Um beijo Helena e que sejas sempre assim

GL disse...

Este post, ou a discussão do mesmo, levar-nos-ia longe.
Fazendo minhas as palavras da Helena (que espero me perdoe) essa "teoria" do um dia de cada vez aplica-se quando a esperança já não existe, quando deixou de haver amanhã. Recuso-me a ir por aí.
A maturidade é sinónimo de envelhecimento? Associo ao envelhecimento sabedoria, isso sim.
A fase da ribalta é curta e quantas vezes enganadora. O clique, como diz, dá-se quando tomamos, de forma muito clara, consciência daquilo que queremos, para onde vamos direccionar os nossos passos.
Em sintese. Sabedoria é viver cada dia como se fosse o último, fazendo o balanço do passado, do presente, mas não do futuro, porque esse ainda está para vir e será muito o resultado do hoje, do agora.
Abraço.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Muito agradecida estou por contraditarem.
O presente é futuro e é passado em certa medida mas poder-se-ia dizer às avessas, o futuro é do presente e do passado.
Ontem em Duas Igrejas, freguesia de Paredes, aconteceu aquilo a que eu chamo um dia de cada vez, i. é, por muito que projectemos o Futuro, o acaso, o destino (para falar aqui nas teorias do Szondy) ou qualquer coisa como a tal caixinha preta do Skinner ou tantas outras coisas que não vêm aqui ao caso, mais vale viver um dia de cada vez como se fosso o último como diz a canção. Condidero, ao contrário das minhas queridas amigas, uma forma "sábia" e esperançosa, chamemos-lhe assim, de viver. Mas se não quiserem estes dois adjectivos, chamemos-lhe então, mais prosaicamente, realista :)
Um abraço de agradecimento