Há palavras lindas, tão lindas que parecem flores com aromas. Há outras que o não são. Há aquelas que nos oxigenam a mente e outras que nos intoxicam, mas não quero ir por aí, em tempos já escrevi sobre este tema.
Apetece-me antes abordar o caminho do intimismo. Há escritores que consideram que o intimismo, o falar mais individualista, afasta os leitores, porque os leitores querem considerar-se eles próprios protagonistas, eu, que não sou escritora mas leitora assídua, acho pelos mesmos motivos, o contrário.
Não considero que o intimismo não seja igualmente uma forma não ficcional.
Quando partimos do particular para o geral não estamos a fazer generalizações, mas antes a ficcionar o pessoalismo, a torna-lo de todos.
É aquela velha história "somos todos muito parecidos apesar de muito diferentes".
Sentimos necessidade de narrar em especial quando se vivem dias grossos e sem luz.
Distinguimos palavras, pensamentos feitos de palavras e quando se escreve diz-se adeus a palavras naquele instante ligeiramente iluminado. Isto passa-se com todos, no entanto é bastante intimista.
As imagens agora saltam-me, se calhar estavam todas caiadas de azul, metidas em vasos à porta e de repente parece que saem dos seus sítios e vêm aqui para ver e ouvir e perceber uma linguagem falada que foi pelos meus avós.
E vezes há que me calo em vez de as deixar sair uma por uma. Parecem que não sabem falar, falta-lhes o dom.
Desconfio até que não se querem encontrar comigo, já que nem sempre faço de mim própria, mas a maior parte das vezes, sim.
Nem sempre sei que existo no mundo, mas pergunto-me se alguém sabe e lá vem a história: O que se passa comigo, interessa aos outros?
Supondo que cada um de nós é muitos e quando nos escrevemos, escrevemos o outro, interessa sim, porque o que se passa comigo passa-se com os outros.
Apetece-me dizer que é como fazer amor. De todas as vezes que se faz amor, inventa-se o amor, não sei quem disse isto, mas é verdade.
De todas as vezes que se escreve, nem que sejam assim uns escritinhos como os meus, parece que nos reinventamos, desarrumam-nos o espírito, nem que seja para o manter na mesma.
6 comentários:
Estava a ler-te e ao mesmo tempo a interrogar-me, claro, lá está, descreves-te ou descreves-me?
Mas há um pragmatismo em mim que me segreda sempre ao ouvido: escreves de ti e para ti e para quem te apanhar.
A mim, não tanto ao que eu digo ou escrevo, se e quando sou divergente do que digo e escrevo.
E às vezes até nem sei bem o que digo.
;)
Beijo matinal.
Desde que exposto o intimismo deixa de o ser. Mergulhamos nele, comungamos dele, bebemos daquilo que quer seja só seu.
A palavra, mesmo quando escrita, ganha liberdade, escapa à mão que a desenhou e vai, caminho fora, partilhando o intimismo que esteve na sua origem. E que gratificante é sentirmo-nos fazendo parte desse mundo.
Abraço.
tu escreves muito bem mas como dizes preguiças. Isto vai do começar é como os peanuts :)
Beijo de agradecimento
Mas eu acarinho essa preguiça, que garanto-te, não é nada casual. Faz parte de uma escolha.
:)
eu sei, já me tinhas dito :)
eu sei, já me tinhas dito :)
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