sexta-feira, 18 de maio de 2012

CONSCIÊNCIAS BRANCAS

Desde 1850 que se verificou uma subida do nível do mar que é responsável pela fase erosiva actual, refiro-me às rochas da Foz do meu rio, o Douro.
As rochas da Foz têm milhões de anos, são anteriores à intrusão do granito no Porto, mas mesmo essas sofrem a erosão, evolucionaram para um estado intermédio, diria eu que nada percebo da matéria, mas há consciências que não sofreram tão pouco essa evolução, não saíram de espermatozóides, embora considerem que sim e até falam.
Sentem-se superiores porque reconhecem os medíocres.
São rasteiras,  julgando-se a si mesmas a justa razão de todas as vitórias pessoais. Se bebem cerveja são seres filosóficos.
Chalram sobre tudo. A sua existência coincide ponto por ponto com o mundo, não precisando de papel vegetal.
Julgam pertencer a uma casta, agitada por necessidades.
Todas as faces destas consciências reproduzem a mesma indiferença, as ideias têm todas o mesmo valor.
Possuem dois apetites - encher a bolsa e saciar a carne.
Não pensam demasiado, porque pensar é uma infracção às regras, uma heresia.
Não possuem itinerários espirituais, mas compram algumas crenças, as suficientes para se manterem brancas.
Não precisam de ser convencidas, por isso dispensam a lógica.
Nunca sonham com Césares ou Napoleões.
Não possuem inimigos da alma. Não são românticas.
As actuais consciências brancas podem ser de agradável nutrição ou não, importadoras são de certeza. Importam tudo, leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilos, indústrias e políticas.
Sabem sempre tudo e nunca deixaram de ser democratas.
Parecem sempre limpas, escaroladas, como se nunca tivessem existido.
Consideram-se fortes e decentes, a "boa" educação é o seu lema e unem-se em relações de superfície, fáceis e amáveis.
Os seus cérebros bem conservados são igualmente brancos, semelhantes a nuvens brancas, imaculadas pelos vazio do pensamento, parecem feitas de algodão-em-rama.
Não se zangam, acreditam apenas.
Nunca se encontram nas periferias, nem geográficas, nem outras.
Estas consciências concordam sempre, não têm dificuldade em lidar com arrebatamentos, simplesmente porque os não têm.
Podemos encontrá-las em reuniões líquidas ou recamadas de estrelas ou cervejando com os amigos.
Não têm declives, nem rostos amarelos de lua, são anteriores ao afundamento das florestas  e posteriores às que nasceram milénios depois.

2 comentários:

lua vagabunda disse...

gostei do texto, está muito bem escrito.

Esses seres não fazem parte das minhas leituras e/ou preocupações... por isso o que lhes estimo é o que lhes desejo.

hehehehehehehe

Helena disse...

Também eu gostei. Muito!
Mas não das consciências de que falas. Prefiro as multicoloridas, sempre. Mesmo quando a multicor é confusa, inextricável, emaranhada e retorcida.

E... o texto de hoje, onde está, amiga?