terça-feira, 8 de maio de 2012

O CÃO E O GATO

Era uma vez um cão e um gato que não se conheciam.
O cão era velho e quase surdo e o gato novo e brincalhão, um e outro, animais únicos de seus donos e extremamente mimalhos.
Os donos de um e do outro julgavam que eles não se entenderiam, interpretando os sinais que emitiam. Fizeram-lhe uma série de imposições, considerando  tratar dos seus instintos de conservação.
Colocaram o visitante fora, no jardim e garagem e  no residente não tocaram.
Um dia o gato tentou reagir à situação, fugindo, saiu sem dizer água-vai.
Os donos foram-no buscar a tempo.
A partir desse dia mudou tudo. O gato civilizado e o cão desconfiado, de inconvenientes, incapazes de qualquer harmonia social, um bufava e o outro ladrava, começaram os dois no mesmo espaço um diálogo tímido, mas um diálogo.
Abandonaram o monólogo de pragas e vociferações.
Neste momento em que vos escrevo, cada qual cumpre os seus deveres. Um dorme no sofá da sala e o outro na cadeira do escritório.
Estou em crer, pelo que vejo, que todos aqueles terríveis encontros de intolerância canina e felina, eram electricidades do mesmo nome que se repeliam, o medo.
Não falam a mesma língua é verdade, mas são ambos muito bisbilhoteiros. Apetece-lhes descobrirem-se umas vezes, outras afrontarem-se e outras ainda manterem as tréguas da preguiça e da representação, sem descurarem a protecção de seus donos, implorando ajuda e meiguices personalizadas.
Moral da história que nesta história há uma moral: os civilizados aqui foram os animais, os analfabetos. Os míopes, os donos.

8 comentários:

Helena disse...

Bom dia, Homónima!
Que boa forma de o começar, o dia, com uma fábula caseira.

Eu tenho uma com dois cães, mas que acabou muito mal. Um dia, conto-a. Quando já me magoar menos...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

claro que tudo depende muito do temperamento dos bichos, porque cada um é diferente do outro, mesmo sendo da mesma raça, como sabemos. Estive aqui a estudá-los um dia inteiro, mas tive mais complicações com os animais humanos, para falar verdade: dão muitos bitaites

lua vagabunda disse...

Pois, eu (como sabem) tive essa experiência aqui em casa durante 10 dias... e foi tudo muito civilizado.
As gatinhas jamais se misturaram com a cadelinha mas os únicos sons que emitiam era um rosnar ao de leve da cadela qdo as gatas se tentavam aproximar...

Deve ser pq aqui em casa somos todos analfabetos...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

ou será porque eram todas "meninas"
temos que continuar a "estudar" o caso. Por acaso, fartei-me de pensar no teu caso e da hóspede

lua vagabunda disse...

pois, tb é verdade.

E outra verdade é que sou muito autoritária (também) com os animais. Da 1ª vez a cadelita ladrou à Kat e eu disse-lhe um redundante NÃO!
Qdo as gatas bufavam: idem...

Penso que todas perceberam q o melhor era mesmo obedecerem...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

o problema é que não sou sozinha e depois tudo manda, não é fácil, mas o gato é mesmo mimalho e depois quer tudo que o cão tem, atrevidote. O problema é sempre o mesmo, muitos novos querem o que é dos velhos. Ultimamente verificava isso quando trabalhava.

Helena disse...

Ó minhas lindas, a Helena tocou no ponto: tu aí só tiveste 'meninas'. Quando o caso mete género masculino, a rivalidade instala-se mesmo. Nós tivemos (a conselho da veterinária, depois de muitas tentativas em vão) que esterilizar um dos cães. Mas nem isso os acalmou. Um dia, e na nossa ausência, a luta foi mortal...
E, inesperadamente, quem ganhou essa luta foi o mais dócil dos dois, o que ainda agora nos acompanha.
Eles fram os dois recuperados da rua e, nesses casos, a 'educação' é mais complexa, porque já arrastam traumas de abandono e às vezes de maus tratos.
A única coisa que me limava a mágoa que me deixou a morte do meu 'Viriato' (as fotografias dele estão no meu blog)foi o facto de nós lhe termos proporcionado uma apesar de tudo londa sobrevida, já que, passados uns meses de o termos apanhado na rua, desenvolveu uma doença com baixa de plaquetas e perda de sangue por todos os lados, que o levou a internamentos, transfusões de sangue e quimioterapia... Se não estivesse connosco e não tivesse encontrado um casal de veterinários que nunca desistiu dele, não teria vivido os mais quatro anos ainda.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Não sei o que te diga. Apenas que é uma história triste. Bj Homónuma