domingo, 20 de maio de 2012

MEDO

As pessoas sentem medo, têm medo de serem abandonadas de vez. Há medo na sociedade portuguesa actualmente.
Às vezes o medo está associado à vergonha. A ditadura protege como uma mãe maníaca e punitiva, a democracia não.
A sopa dos pobres está cheia, os novos desempregados, engrossam as filas.
Ontem, ouvi  na rádio o Presidente da Caritas, que não é propriamente uma pessoa de esquerda, a dizer coisas que há pouco tempo atrás, só as pessoas de esquerda, assim consideradas pela direita diziam, sobre o desemprego e quem lhe chega para pedir ajuda,  que as pessoas não gostam de serem subsidiadas e o que pedem é um emprego.
Algumas pessoas, nestes tempos de agitação, com um governo de incompetentes, de inexperientes, de incapazes e com duas ou 3 ideias coladas com cuspo sobre o que é a governação, sem uma ideologia, seja ela qual for, sem espinha, sem amor à Pátria, no sentido que eu lho dou e que os gregos lhe dão: "fazemos isto pela Grécia" dizem eles, apenas paus-mandados  da alta-finança nacional e internacional, algumas pessoas dizia eu, nesta altura de drama, fazem anedotas.
O medo rodeia-se muitas vezes de mentiras e até de anedotas, traveste-se de várias coisas.
Atenuam-se as situações, ladeiam-se as dificuldades.
Há medo de confiar em alguém, se bem que haja muita gente boa ainda, porque já se confiou demasiado tempo em demasiadas pessoas em quem não se devia ter confiado.
Há medo como fuga às desilusões de si mesmos.
Não sei se todos integraram a crise, mas a maioria não a entende, mas de qualquer forma subsiste medo da sua cauda repressora.
Há igualmente muito descrédito.
Os seres humanos não precisam de dor e sofrimento para aprenderem e crescerem Sr. Primeiro Ministro, os seres humanos precisam de alegria, quanta mais melhor e de esperança.
O mundo que todos nós conhecemos desapareceu. Todos nós desconhecemos o novo mundo, o mundo que se vai formar, se há quem se considere fautor dessa mudança, outros há que aguardam, com medo, um futuro, um destino.
O medo tem sido a colheita destes últimos anos e vai continuar a ser.
Com este medo a grassar, as personalidades também se alteram. Vemos pessoas a abnegar das suas verdadeiras personalidades e por exemplo, a passarem de orgulhosas a falsas humildes, apenas por medo.
O medo faz com que as almas vão solapando aos poucos.
As pessoas, muitas, um milhão pelo menos, vêem-se vencidas, humilhadas, sem emprego e sem esperança.
Estamos com uma guerra civil declarada, embora só alguns vejam isso. O Presidente da República e os diversos governantes vão-nos convocando à obediência. Somos combatentes duma guerra não declarada formalmente.
Quem se governa compraz-se a mentir. Possui memórias adormentadas. Todos os governantes, sem excepção nesta altura, atingiram um nível superior de incapacidade governativa. Não têm energia, a não ser para as suas manigâncias. Vivem simplesmente noutro mundo.
Colaboram activamente e denodamente na supressão dos empregos e depois admiram-se com o número de desempregados, cortam nos subsídios de desemprego e vêm dizer  logo a seguir, que aquelas pessoas que recebem subsídio se estiverem em simultâneo, a trabalhar em certos trabalhos, que isso será até é uma coisa boa. Toda esta forma de "governar" não acrescenta só insegurança, mas dá medo, muito medo.
As pessoas sentem-se abandonadas, descobrem-se em ruína e têm medo de não se salvar entre todos estes escombros e entretanto como nos anos 30/40, os espertos nunca perdem e saem sempre mais ricos do que antes das crises, como dizia José Júlio Rodrigues em 1940  em "A Pedra do Demónio".
Como pode o medo desinstalar-se desta sociedade nossa se nem Justiça nem Segurança Social temos?

2 comentários:

Helena disse...

Tens razão sobre o medo. Tens razão sobre o mundo novo (?) que nos espera, um mundo desregulado, que mais do que novo, me soa a velho, muito velho. Aliás, eu costumo dizer que voltámos à reivindicação básica de 8-8-8...
Há apenas uma coisa no teu texto com a qual não concordo: quem nos governa não é isento de ideologia. Antes pelo contrário!
Bjs

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

O QUE QUERIA DIZER QUANTO Á IDEOLOGIA, ERA UMA IDEOLOGIA VERDADEIRAMENTE SOCIAL-DEMOCRATA OU MESMO DEMOCRATA-CRISTÃ, É UM HIBRIDO ECONOMICISA/OPORTUNISTA/CHAUVINISTADE DIREITA POUCO ESCLARECIDA, UMA GRANDE PESSEGADA DE DIREITA MUITO BÁSICA. QUE IDEOLOGIA TEM UM MIGUEL RELVAS? (a não ser a de mafioso?)