sábado, 5 de maio de 2012

MEDIOCRIDADE (S)

Os medíocres nunca estão sós, porque a mediocridade é um sistema, arrastam-se uns aos outros, são cúmplices.
Normalmente dão justificações engroladas, embora haja muitas espécies de medíocres.
Há os que se deixam amodorrar numa cadeira ou numa cama, sem doença aparente.
Há os que se consomem em intenções e entusiasmos e querem ser competentes artistas, empresários ou políticos. Alguns lembram rãs ou ralos com a sua serrazina.
Os que têm normais e tranquilas vidas infelizes, com recordações, não amargadas que nem as viveram, mas com idade para acumular sofrimentos.
Pessoas que não se dão ao direito de entrar em contradição porque são a própria contradição.
Há os tombados do casulo das aparências, das trapalhadas amorosas, das sombras, lastrados de fuligens.
Os insinceros, aquele que são assim mesmo, como o muco que os caracóis deixam por onde passam.
Há-os com olhos estúpidos, gargantas presas e consciências boquiabertas.
Os que descalçam as botas por tudo, muito antes do tempo e as lambem aos outros.
Há os que se assemelham aos bêbados, que dizem as coisas aos solavancos.
Há os chefes políticos da paróquia.
Há os que querem fazer boas acções e as anunciam publicamente, mas para os 6 anos a seguir.
Há aqueles em que as virtudes são como o orçamento, com grandes déficites e maus saldos.
Há os robustos, os de finíssimos lábios; os que pedem constantemente prorrogações por não terem forças para escolher.
Há os que se assemelham a estorninhos, em bandos, cantam em coro e fazem um estranho orfeão de sons e de asas.
Há aqueles mais parecidos com as crianças, miudinhos, capazes de passar um dia inteiro no mesmo ramo, parvinhos de todo.
Há os que vivem no mundo rodopiando como folhas no vendaval.
E se calhar é preferível ser medíocre nos tempos que correm, porque quem não se contenta com essa condição triste e sombria, magoa-se, sofre a realidade que é lancinante, só lhe resta partir, ou enlouquecer, ou suicidar-se.
Os medíocres duma maneira geral, são dissimulados, resguardando-se.
Os medíocres gostam de colocar jovens no poder, para os ter do seu lado, subjugados, pervertidos, roubando-lhes a juventude à oposição, à crítica, esvaziá-los de futuro.
O produto dos medíocres no nosso Portugal foram o ludibrio das riquezas que nos deixaram, a ausência do império que descobriram, as intolerâncias várias como peste para os espíritos.
Trataram de nos colocar no inferno estes invasores da mediocridade, incapazes que são de suportar o paraíso e dizem-nos que o paraíso agora se deslocou para o outro lado dos mares, como na década de 50/60 e princípios de 70, algures, em África e se calhar de novo, no Brasil.
E estas reflexões, das mais profundas, desde a invenção das flores, a consolarem-me de tantos malefícios.

3 comentários:

Helena disse...

É uma privilégio acompanhar-te e às tuas reflexões!
beijo e um bom fim de semana para ti.

lua vagabunda disse...

O que eu GOSTO destas tuas crónicas...
Esta está sublime.
Amei

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

AS MINHAS SÓCIAS SÃO MUITO GENEROSAS. ÀS VEZES FAÇO ASSIM REDACÇÕES SOBRE "A VAQUINHA". vOCÊS LEMBRAM-SE QUANDO ANDÁVAMOS NA PRIMÁRIA E NOS PUNHAM A FAZER A REDACÇÃO DA VAQUINHA? E NÓS DIZÍAMOS A VAQUINHA SERVE PARA...