domingo, 27 de maio de 2012

REFLECTINDO SOBRE LITERATURA E CULTURA

Hoje há pouca gente culta, no entanto há muitíssima gente a escrever livros e até romances, sendo que cultura não é prisioneira da literatura, tão só a inclui.
Há muita cultura-espectáculo, mas gente culta, gente que pensa, que lê, há muito pouca.
Há muita gente a escrever, a fazer citações, a dizer que conhece este e aquele, mas só alguns, pensam e sabem escrever. Muitos publicam e chamam-se de escritores, mas poucos há com espessura suficiente para o acto da escrita.
Para alguém ser escritor é preciso ter tenacidade, não desanimar, olhar e tornar a olhar, moer a paciência, não basta apontar  a objectiva e escolher enquadramento.
Hoje escreve-se como se se fotografe e quase nem retoque há na revelação da película na câmara escura, porque não há câmara escura na maioria das vezes.
Ser culto é ser um ser pensador, é passar por um longo processo de elaboração. É este processo de desenvolvimento que por sua vez abrange um processo dinâmico de transformação.
Tem que haver maturação e desenvolvimento interior. Procurar ser culto não é citando frases mais ou menos filosóficas, mais ou menos poéticas, é impregnarmo-nos delas.
A cultura é algo que tem que se desenvolver dentro de nós, tem uma fase de incubação de muitas décadas, ao longo das quais vai sendo interiormente elaborada.
Uma pessoa culta é uma pessoa que verifica, que revê, que coloca o intelecto a assumir papel de relevo.
O intelecto da pessoa culta corrige e modifica e não se importa de recolher opiniões alheias para mais culto ficar, isto é, no meu ponto de vista, mais belo e perfeito.
Preocupação em receber opiniões de amigos e pessoas abalizadas foi particularmente relevante no classicismo por exemplo, em Sá de Miranda, António Ferreira e outros.
Uma pessoa culta, um intelectual, é um eterno insatisfeito, porque nunca se fascina com o que sabe, porque sabe que sabe muito pouco como o filósofo já tinha dito e nunca se atribui méritos.
Ser culto e ser criativo é fruto dum percurso de amadurecimento e sobretudo de trabalho silencioso, individual, de modo a criar uma opinião, é ao fim e ao resto, um processo de criação, não é, de modo algum, ascender ao cegarrega do coro dos informados.
A cultura não está nem nunca estará ao alcance de todos, a informação sim.
Há sim muitos Fradiques Mendes, personagens viajadas e menos viajadas e muito sofisticadas que dizem que conhecem este e aquele. Personagens aparentemente sólidas, mas apenas isso, agora pessoas com uma verdadeira cultura, estável e firme, há muito poucas.

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