terça-feira, 29 de maio de 2012

NÃO PODEMOS TER POLÍTICOS MELHORES SE NÃO FORMOS MELHORES

Nós somos a matéria prima  destes políticos.
Somos "chico-espertos" congenitamente.
Impostos para pagar? Devíamos deixar de os pagar.
O esperto é quem rouba sem ser apanhado. O mais valorizado é a esperteza.
Quem chega a horas é considerado uma pessoa que não tem palha na cama.
Quem lê, é considerado um pobre intelectual ou um coitado que precisa de se distrair com qualquer coisa.
Papéis para o chão? "Eles" que os limpem.
Água a correr? Nós pagamos.
Vemos televisão medíocre, nefasta, mas não a  desligamos, apenas lamentamos que não há nada mais para ver. "Eles" não dão outras coisas.
Falamos de coisas que não sabemos como se tivessemos certezas absolutas. É nosso costume dizer "aqui na nossa vizinha Espanha, não é assim"; "isto só em Portugal, se fosse num país civilizado...".
Esta desonestidade connosco vai evoluindo na escala, e acaba por casos escandalosos na política.
Aguardamos sempre um Messias, um novo ditador, em vez de darmos um passo à frente na mudança. Ninguém quer mudar, todos julgam estar bem.
Andamos sempre a procurar os responsáveis, nós nunca o somos, os responsáveis estão sempre fora de  nós. Exigimos aos outros, aquilo que não queremos que nos exijam.
Nunca, mas nunca nos olhamos no espelho à procura do responsável.
Como podemos exigir melhores governantes, sem exigir a nós mudanças, mudanças profundas. Claro que há pessoas mais responsáveis que outras, como não nos devemos esquecer que os governantes são povo como nós saído do mesmo caldo.
O que é certo é que há países que passam por civilizados aos nossos olhos, sem o serem, passam por viverem num estádio mais avançado e não vivem e tudo isto acontece por falta de conhecimento, por falta de leitura e busca da verdade.
Nós fizemos uma "revolução", fizemo-la, ou melhor, aderimos ao golpe de estado militar para acabar com um mecanismo de poder, mas ele logo reapareceu sob uma máscara nova.
É sempre assim. E voltou com os mesmos princípios autoritários e opressores.
Claro que não podemos viver fora disto, mas também não temos que estar condenados a esta situação, portanto temos que desviar o curso destes sentidos estereotipados. Temos que desfazer estas imposturas.
Os poderes estão espalhados por toda a parte, temos que buscar brechas nesses poderes instituídos, onde nos possamos constituir como intensidade.
Com a revolução soltamo-nos, até na linguagem a isso se assistiu, mas não ficamos livres.
As instituições, as categorias, os poderes, o saber e a ignorância epidêmicos continuam a mediatizar as relações entre as pessoas. Continua a impostura.
O poder nunca esteve nas mãos do povo propriamente dito, nunca saiu das mesmas mãos, embora tivesse fases mais alegres.
Há uma nostalgia infinita daquilo que quase nunca aconteceu.
A revolução é uma irmã nossa, mas morta.  Continuamos sob o olhar do Príncipe, dentro das velhas/novas relações do poder.
Hoje em dia, o poder é previsível, comunicável e controlável.
O nosso mundo é um simulacro do real, mas nós estamos dentro dele e não podemos romper este elo por muito que queiramos, a única coisa que podemos fazer é criar uma outra realidade, mas para isso é preciso de não ter medo de não nos reconhecermos dentro dela. Para isso teríamos que nos construir simultâneamente com esse novo mundo, só assim nos realizávamos.
Há quem queira fazer parte desse novo mundo, elementos soltos, à margem desta integração opressiva, que renegam todas as imposturas destes poderes.
É impossível mudarmos se quebrarmos esta unicidade desde sempre introduzida pela impostura.
É preciso sabermo-nos fazer em aprendizagem, pensarmo-nos de novo, enquanto povo, creio que só a verdade nos pode levar à diferença.
Se formos verdadeiros, se cada um de nós deixar de simular e ser o que é de facto, as relações de força, alteram-se.
A democracia seria outra, os estereótipos decompunham-se e seríamos múltiplos, diversos. Se fossemos verdadeiros não acreditávamos em verdades universais e descobriríamos, inventávamos novas possibilidades de vida.

1 comentário:

lua vagabunda disse...

gostei e concordo no essencial.

O único "senão" que encontrei: não, não somos mesmo todos iguais nem saímos todos do mesmo caldo... e sim, só mesmo estando e vivendo fora do país se percebe o quão mal ele cheira e o quão pequeninos somos em quase tudo...
Claro que há gente muito, MUITO boa... mas não está (nem nunca esteve) no poder e nas decisões importantes de Portugal...