domingo, 6 de maio de 2012

SONS DE DOMINGO

Os domingos são esdruxúlos. Quando não dá segundite aguda, dá ganas abortivas.
É o dia das epopeias familiares.
Parece que se anda à procura do que se vai fazer para se iludir o tempo, à maneira de Xerezade.
Este domingo havia eleições por essa Europa fora e íamos de eleição  em eleição, conhecendo os resultados, sabendo dos impactos sociais e políticos que se geram a partir das ondas de  choque emocional que se instauraram quer em França, quer na Grécia e que podem ou não ser seguidas de réplicas noutros países sujeitos a eleições dentro em breve, como no caso da Alemanha.
Passado que foi o domingo, as vidas voltam a ser concêntricas ou tangenciais, os tons dos dias passam a ser de novo, de azul-escuro invisível à superfície da pele.
A vida é uma "ideologia superior" alguém o disse, assim sendo desperta em nós a obrigação de viver, mesmo que para isso saibamos que todas as semanas há um domingo.
São raros os domingos com história, mas este não, este  deixou as suas marcas de água, indeléveis pelo exercício democrático de dois povos, de duas culturas, França e Grécia.
Somos todos ou quase todos desapossados das nossas rotinas, no entanto, os domingos são uma enorme possibilidade para os homens se revoltarem, para criarem porque abandonam as rotinas. Na maior parte das vezes isso não acontece, as pessoas gostam de puxar o carro da rotina.
O domingo é uma espécie de traição a todos os dias da semana ou era, já que agora o comércio continua aberto, como se de dias úteis se tratasse e as pessoas, principalmente as das cidades, dirigem-se para os locais de consumo, na vã ilusão de que continuam com poder de compra intacto.
Há gente que vai à missa, mas não me parecem na maior parte dos casos, momentos íntimos e sagrados.
Os políticos governantes e não só, escolhem os fins-de-semana e em especial, o domingo, para serem vistos (com ajudas de custo é sempre bem mais confortável, não saírem da sua zona de conforto, como se diz agora).
Claro que há pessoas que não sabem o que são domingos, mas esses têm uma cultura incompleta.
Os domingos são vistos pelos olhos domingueiros de cada um.
Se é um elemento duma família num restaurante ao domingo, há que comportar-se como tal. Se se pretende que o domingo passe o mais depressa possível, então aí começam os problemas, porque é nessa altura que ele nunca mais se consome, ficando cada vez mais comprido, terrivelmente comprido, perigosamente comprido como me contam.
O domingo é o dia ideal para os familiares se encontrarem frente a frente.
Ontem foi um dia diferente. "Todos" fomos um pouco gregos e um pouco franceses, todos nos encontramos nas suas personalidades.
Apesar de tudo e Com Tudo este domingo foi diferente. Viajamos para outros lugares e conseguimos abstrairmos um pouco de nós.
Quebramos a rotina dos domingos e deixamos de ser reaccionários, i.é etimolologicamente falando, de reagir contra os domingos, pelo menos uma vez.

2 comentários:

lua vagabunda disse...

... é espantoso como tu conseguiste ver isto tudo no dia de ontem! Eu não vi nada disto. Vi (apenas) mais um dia igual para toda a Europa (e mundo)... Nada mudou, nada vai mudar.

Todos (?) os poetas escreveram sobre os domingos... ai, esses malditos domingos... ou o que eu mais gosto e que o Viegas tão bem diz: Quando chega domingo... domingo que vem vou fazer as coisas mais belas que um homem pode fazer na vida...

Os domingos de família e os restaurantes com eles dentro são a coisa mais triste que conheci em Portugal. Fantasmagórico ... jamais vou esquecer essa imagem triste!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

:)