sexta-feira, 11 de maio de 2012

QUANDO OS INDIOS NOS VÊM BUSCAR

Neste texto ora é usada a primeira pessoa do singular, ora a primeira do plural, quase indistintamente. Tal acontece por me considerar uma entre muitas e tal como digo na apresentação do facebook, sou igual a todos os outros na mesma proporção em que sou diferente dos mesmos outros.


Quisera eu ser uma pessoa concentrada - feliz de mim - que não me abrisse com ninguém, com coração selado por um mandato judiciário, como alguém disse.
Quisera nada compreender a não ser que não se compreende nada e compreender o que não compreender e o que é compreender. Mais vale nada compreender à partida.
Neste mundo as palavras de ordem são a juventude e a prosperidade e, as artes, não são compatíveis com a felicidade.
A mudança, como revolução, é subversiva, por isso evitada.
A sede do conhecimento e a busca da verdade são perigosos e ilusórios.
A mentira é mais cómoda que a dúvida e mais perdurável que a verdade.
Já passou a fase talvez da busca de mim mesma, pelo menos naquelas sombrias auto-análises plenas de complexidades.
O tempo oferece-nos um certo distanciamento, não havendo sequer qualquer tentativa de recuperar o passado nem a pretensão duma vida lamentativa e anódina.
Não sou daquelas que dizem: se começasse hoje fazia tudo igual; nem tão pouco das que afirmam que faria tudo diferente.
Julgo que as pessoas não crêem nas verdades que mentem, nem nas mentiras que dizem a verdade. A vida é uma canção desafinada, li ou ouvi em qualquer lado.
Houve uma época em que só agia após a razão me ditar o modo de acção, as minhas reacções tornaram-se racionalizadas. Exigi isso de mim e é relativamente fácil consegui-lo, mas não me tornei mais feliz, antes pelo contrário. Nessa altura deixei que os "índios" me viessem buscar para me asselvajarem. Quero-os na sua imensa floresta com as suas imensas liberdades.
Há quem tivesse consentido nisso, mas primeiro há que endoidecer para não morrer logo.
Nessa altura era serena, dominava-me e era um ser muito mais triste.
Para confessar os erros é preciso muita força e para chegar a tal estado é necessário passar pelo sofrimento.
A experiência alheia não nos torna experientes.
Há alturas de meditação em que tento perceber o que é melhor, se respeitar os outros com as suas taras e manias, de os aceitar como eles são ou se ser autoritária e intolerante é menos pernicioso e é difícil chegar a conclusões com os exemplos conhecidos e seus resultados.
Ocasiões há em que ficamos embrutecidos, vazios, sem ideias, inermes, perdidos e com essa imensa aflição.
Só temos uma vida, um só caminho pela frente, e não podemos experimentar outros caminhos e possibilidades diversas.
Muitos de nós possuem naturezas pobres, bravias.
Não sendo  a prudência uma das minhas maiores virtudes e não tendo olhos capazes de ver aquilo que nos obrigam a ver, se calhar por não estarem suficientemente amadurecidos e porque não sabemos quanto tempo ficamos, delineamos estratégias e montamos tácticas para a frente, de perda em perda e para os lados, para tudo o que são os outros e o reflexo que de nós nos devolvem.
É nestas alturas que a vontade de ler é ainda maior, como que para nos adormecermos gradualmente, sobretudo para se fincar a atenção fora de nós ou a escrever uma palavra que fique para a eternidade.

4 comentários:

Helena disse...

Gostei muito!
A busca de nós mesmas nunca acaba!

Beijo

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

pois é minha querida Homónima, um enorme cansaço

lua vagabunda disse...

Tb gostei. Muito.

Mas é um texto "confuso" do tipo prós e contras...... não há (propositadamente?) uma coerência no discurso.
Fiquei com vontade de mais... apetecia-me questionar muitos dos parágrafos.

Jinho grande

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

questiona. estou aqui para isso