sexta-feira, 4 de maio de 2012

CRISES

"Quem tiver alguma coisa a dizer avance e fique calado", já ouviram esta célebre frase de 1914.

"Que tempos são estes/em que uma conversa/é quase um crime/porque contém/tanta coisa dita?", dizia Paul Celan, esse judeu inconformado com o destino da humanidade.
Dizia ainda que quem fala, não fala para ninguém, fala porque ninguém o ouve, ninguém e Ninguém.
Mais tarde, ao virar do século Karl Kraus dizia que a linguagem, estava prostituída ao serviço de objectivos mercantis, agressores e degradantes da condição do homem.
Hoje é igual, assiste-se a que muitos que nada têm para dizer continuam a falar.
Todos aqueles que abusam das palavras criam condições para abusar do Homem, não sei se alguém o disse ou eu própria noutras ocasiões, mas é minha a frase de qualquer dos modos.
Quando se fala em crise, referem-se à economia e finanças,  eu lembro-me de outras, várias, como a de Viver, a grande responsabilidade de viver que é tão difícil para tanta gente e cada vez mais; a da Imaginação; a da Cultura, da verdadeira cultura, a que produz intelectuais que são aquelas pessoas que pensam por si, que usam o intelecto; a do Jornalismo, do bom, não a do culto do vazio de ideias.
Não se aprende nada com a História, ninguém tira lições de decadências passadas. Hegel tinha razão, parece-me que Antero também o disse.
Ainda continuamos a sofrer daquela epidemia originária da Alemanha que consistia pegar-se numa palavra vulgar, escrever-se com letra maiúscula e fazer-se disso um conceito transcendente. Estava muito em moda esta doença nos anos 70/80, agora voltou.
A crise da Honra e da Honestidade.
Ninguém, quase ninguém semeia para colher, apenas aproveitam as ocasiões. Receio que se torne uma moral colectiva.
A crise da Consciência. Desconhece-se as ignorâncias e a crise número UM, a maior de todas, a POLÍTICA.
Hoje os partidos são clubes e os deputados na AR, as claques. Alguns são neófitos, tão amadores que dá dó.
Não é com esta gente que se faz História. Pessoas que ainda estão em processo de crescimento, que nem sequer acabam a sua evolução, estabilizam ali. Parecem evadidos de casas de correcção, com afectos irracionais, fiéis q.b a um dono, até se alcandorarem ao pretendido que aprenderam na escolinha do partido.
Ignoro os sentimentos destes meninos e meninas por acabar, que chegam já depois de madurarem em estufa, a PM(s), chefes de partido e até de empresas. Não há diferenças entre eles, apenas se conhecem as que existem nos clubes, uns gostam de verde, outros de azul e outros ainda de vermelho.
Gente que não é capaz de passar uma hora sozinha, de reflectir, de ler um livro e  meditar nele.
Cada vez dou mais valor ao silêncio e às pessoas que sabem conviver consigo mesmas, sem ruído, sem excitantes de partidos, sem companhias ruidosas e que não são amigos de ninguém mas espectadores de toda a gente. Essa gente só tem sentenças, não tem amor. A parte afectiva está toda reservada ao dinheiro, DINHEIRO, ter muito e cada vez mais para mostrar que conseguiram, não interessa como.






Paul Celan nasceu em 1920 na cidade de Czernowitz, região da Bucovina, «uma terra onde viviam homens e livros», na altura romena e hoje território da Ucrânia, que até à 2ª Guerra era um dos centros mais importantes da cultura judaica do Leste europeu.
























1 comentário:

Helena disse...

Escolher a cada momento livremente entre o silêncio e o ruído é que era!
Mas vivemos num caldo de sons desafinados (e sem coração...).
Uma verdadeira cacofonia. É preciso muita arte para sintonizar a música.