quarta-feira, 2 de maio de 2012

DIARIZANDO

Como gosto de fugir para aqui. Sempre gostei. Quando era pequena, fazia o meu diário todos os dias, pleonásticamente falando, mas antes de me ir deitar... afinal só mudou a hora e o local.
Aqui dou ao espírito a chefia em todas as matérias assimiláveis e deixo os guinchos facebookianos.
Vim de lá e vi as pessoas a borboletearem-se por diversos camarotes e quando se deslocam de um para o outro, repetem o que a dama ou o cavalheiro disse, esquecendo que tinham ouvido e não proferido. Já vi isto há muitos séculos, embora não ficasse tal assunto hospedado no meu coração.
É um cansaço fatigado que provoca. Os "importantes" recebem os menos importantes. Os quase importantes a tentar falar com um já importante. Nestes casos não se costumam cruzar ideias, dar-se choques ou atritos de amola faca, tesouras e navalhas, apenas não dão a "importância" de responder.
Abro os olhos e quero rir, mas não me apetece. No ar bailam desperdícios de palavras, como se de partículas de pó se tratasse, na réstia de luz vinda da janela que se abriu.
Penso em andar, correr, dançar. Penso tanta coisa, porque quando acordamos reatamos de imediato, os fios da nossa vida e isto não pára; às vezes sinto-me caminhar sobre alfinetes é verdade. Não sei porque ligo tanta importância às subtilezas.
Quando aqui me sento, a procurar palavras e a meditar sobre tudo e sobre nada, a atravessar as linhas das frases, sinto-me a encarregada das relações entre mim e o ecrã.
Quando pressinto falésias a abrirem redemoinhos, a desviarem-me dos sentidos, fecho os olhos, tranco-os mesmo e aprendo de novo a existir, porque existir também se aprende.
Dia de chuvas tristonhas e eu aqui a gozar da intimidade com o meu anjo da guarda.
Conto-lhe todas as intrigas e desafectos, todas as raivas curtas  e ele vendo a minha tristeza por saber tanta abastança nas mãos de uns poucos que nem mesmo sabem o que fazer com ela, nem fábricas criam, apenas fogem com o dinheiro e escondem-no em offshores e tanta miséria e infelicidade para muitos, tenta alegrar-me dizendo que é assim, sem dúvida, mas que ainda posso ter esperança de ir para o céu (esqueci-me de avisar que o meu anjo da guarda é muito brincalhão) porque sempre protestei e nunca convivi com a miséria e a injustiça sem protestar e eu rio-me, rio-me, rio-me e o meu anjo da guarda ri-se comigo. Abraça-me com aquelas asas muito, muito grandes e ovaladas e diz-me: estás a ver como a tua alma, aquela em que tu acreditas, que como sabes, eu não sei o que isso é, se aquietou. Estás linda. Deixa de estar triste, estás viva e como sabes há uma hora certa para tudo.
Anda, vem viver o teu dia o melhor possível, não entres nessa sucessão atabalhoada de sentimentos que nunca entendes completamente, não recomeces a tecer o tempo.
O presente espera por ti, não te atrases.

3 comentários:

Helena disse...

Beijo grande, Helena!...

lua vagabunda disse...

hehehehehehe e eu o que gosto de te ler logo de manhãzinha... venho aqui à procura deste diário sempre.

O facebook tem piada, ás vezes... só ás vezes... é como as pessoas... tb não têm sempre piada... e então qdo se começam a conhecer pela prática ainda passam a ter menos...
Mas isso sou eu, que sou uma desnaturada e uma anarca do caraças...

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Muito obrigada às duas, fiéis sócias e amigas compreensivas. Bjs