terça-feira, 1 de maio de 2012

HOJE É 1º DE MAIO


Falando com quem estiver aí, hoje apenas converso não escrevo, não consigo:


E vêm-me à memória muitos Primeiros de Maio. Os antes do 25 de Abril com os cavalos da Guarda Nacional Republicana  e o azul de metileno em que aparecia toda rasgada  em casa e, aquele maravilhoso  1º de Maio em liberdade, em que estive a fazer cartazes e até a minha avó mobilizei para me ajudar.
A nossa casa estava com cartazes por todo o lado, tintas, pincéis.
Nesse ano toda a gente estava bem hidratada e flutuava no sonho. A rua era nossa.
A fraternidade e a alegria estavam no auge.
Nesse ano de 1974 o povo quis marcar presença, dizer que estava ali e feliz.
Não era para reivindicar nada, era para agradecer, para gritar bem alto que era amigo, foi uma espécie de certificado de amigo que todos levaram para todos.
É difícil esquecer esse dia e quem teve a sorte de o viver o que tem mais é que o recordar e fazer dele uma bandeira.
Não havia polícias, esses também lá estavam, mas a comemorar. Era tudo irmão. A utopia tinha-se feito realidade.
Foi por causa de terem visto esta força popular que os capitalistas e fascistas de todos os matizes, marcaram viagem para o Brasil, preferencialmente.
Era a festa de todas as esperanças.
Estava um dia maravilhoso, de sol, pujante de liberdade dentro e fora dos corações.
Os sindicatos tinham trabalhado toda a noite na organização e sabíamos que os pides andavam à solta, raivosos  e armados muitos deles, os fascistas não se tinham evaporado e era necessário estar alerta, organizamos piquetes entre os mais combativos e conscientes e que melhor conheciam essas horríveis criaturas para a qualquer sinal de perigosidade que víssemos nos podermos melhor defender a nós e aos outros, os locais foram escolhidos e cada um de nós se colocava onde previamente durante a noite, o desenho nos indicou.
As memórias, são estátuas que se movem, intensidades de amor, profundas experiências sensuais.
Hoje, 1º de Maio de 2012, devido a um maldito joelho que não me obedece, não consigo estar presente, lutar na rua como gostaria, cada um de nós faz falta e todos somos poucos, sempre.
A luta precisa de todos, ninguém pense o contrário.
Estamos a ficar sem país. Enquanto a direita europeia ou quem a governa, nacionaliza interesses estratégicos como em França o próprio Sarkozy, em Portugal quase se oferece o país, porque se vende por preço irrisório e à socapa. Os nossos interesses estratégicos são vendidos/dados como se de ouro gasto e roto se tratasse que o povo vai entregar, sem cautelas desta vez, i.é, sem o poder reaver de novo, o pouco que amealhou durante a vida, nas lojas da máfia internacional.
Vive-se momentos de saque rápido, como em qualquer outra guerra. O Povo precisa fatalmente de acordar e rapidamente impedir que lhe levem o país, que o desfaçam.
Hoje já nem sequer são as horas de trabalho diárias o mais importante,  embora seja muito importante, tal como em 1886 os trabalhadores de Chicago reivindicaram. Porque estamos a ficar sem país, não é o mar que o leva, é o capital apátrida e os portugueses sem escrúpulos seus lacaios, com o único objectivo de enquanto viverem serem os Mais em tudo e, colocarem as suas famílias e amigos durante toda a vida,  igualmente bem. Não são só as famílias dos que nos roubavam antigamente, são essas mais muitos outros que devem a sua existência e a sua riqueza ao 25 de Abril e, que este ano festejaram com cravos e cantoria.
A direita rouba-nos os valores, não os princípios.
É a minha pátria amada, onde nasci que está a morrer, por isso eu digo que para além de ser revolucionário, para além de cumprir os ideais e rituais organizativos ou não, para além de se clamar por liberdade, pão, habitação, escola e tudo o mais a que temos direito, por nós conquistado e que nos estão de novo a roubar, é preciso amar a Pátria, como se ama um ente querido, para não a deixar ir, para  não a vermos morrer, sem pelo menos, tentar salvá-la.
A afectividade é muito importante, não nos devemos perder por ela, porque também faz perder muita gente, mas argamassá-la, misturá-la em doses  correctas de inteligência e racionalidade.
A afectividade pela Pátria não pode ficar refém da direita, a esquerda tem que rapidamente recuperá-la, como os nossos primeiros e puros socialistas o fizeram, não ao extremo que o amor pela Pátria levou Antero, mas em doses sensatas,  racionais e revolucionárias.
O povo português move-se por afectos, é um povo afectivo, viu-se no passado mais recente, a  mobilização por Timor. Ainda agora no funeral dum homem de causas e com serviço prestado à Pátria, se escutou a palavra doçura, a palavra doçura foi aquela que mais mobilizou as pessoas a gostarem do Miguel Portas, alguns de esquerda mesmo, valorizaram-lhe ainda a doçura, os afectos para querer unir diversas vontades.
A razão e a inteligência não chegam para desembrulhar este povo, é necessário escolher novas bandeiras, dar beijos no patamar dos sentimentos.
Este povo só se mobiliza através do coração. Falta amor. É preciso ensinar de novo a amar a Pátria e para isso não é preciso ir buscar à arca os valores de direita (lembro-me agora do que aconteceu com o pedido do Scolari, seleccionador brasileiro que mobilizou o país em dois tempos, para apoiar a sua equipa e fê-lo através, mais uma vez do coração, duma forma simbólica, mas que não deixou de ser mobilizadora e cheia de força para aquele objectivo), mas antes acrescentar à esquerda ou ao que resta dela, a riqueza destes outros.
As vanguardas têm que ser sábias na sua humildade e não se encrustarem como pérolas preciosas nas suas conchas.
Nas ambições pelo poder não há amor, isso provou-o a tragédia da Lady Macbeth que terminou louca, são as influências que nos enriquecem.
Temos que voltar às causas e haverá causa maior que a nossa terra? Havia a liberdade, essa por ora temo-la.
Ter amor à pátria não é constituir um governo de salvação nacional como a direita proclama, para melhor nos roubar, sem oposição, ter amor à pátria é algo de muito mais profundo e revolucionário; é lutar por aquilo que nos levou tantos anos a conquistar, nalguns casos séculos, em que muitos de nós deram a vida; é  tornarmo-nos de novo gente com sentimentos não de azul ou verde ou vermelho pelo futebol apenas, mas gente que pode ser caiada de azul, branco ou vermelho como as sardinheiras dos vasos, gente que sente o seu país e por ele luta, gente que diga não a todos estes simulacros de governantes, de acumuladores de riqueza.
Estamos esmagados, já ninguém aguenta mais, não continuemos aninhados, nos contrafortes de alguma parede, de algum telhado, como se ratos fossemos.
Temos uma causa primeira, antes de todas as outras: GANHAR O PAÍS.
Voltar a ser um país orgulhoso e com consciência de si próprio, não é possível continuarmos com estes tecnocratas estrangeiros, ao serviço do capital global, a mandar em nós. Somos uma nação muito antiga, a mais antiga da Europa, queremos a nossa soberania de novo. Perdêmo-la durante o reinado dos Filipes, mas fomos capazes de restaurar a nossa independência.
Há muito que nos deram uma droga, a mais poderosa de todas, mandaram-nos snifar dinheiro, com ela tivemos alucinações, vimos 4 casas para cada português, talvez mais, já que há construídas 40 milhões, vimo-nos a viajar pelo mundo, a chefiar empresas que não existiam e toda a gente era chamado de doutor. Há una anos a esta parte disseram-nos que para não sofrer o síndrome de abstinência tão acentuado e, para não mais aparecerem aqueles horríveis sintomas de Importância Crónica que sempre sofremos e a droga reforçou, precisavámos de emigrar, de roubar, de nos sentirmos culpados.
Este não é o meu país.
Lutei sempre por um país melhor, por isso quero o meu país de volta.
Á LUTA POVO MEU, O PAÍS PRECISA DE NÓS.

2 comentários:

lua vagabunda disse...

Gostei muito do grito de revolta e esperança.
Só continuo a dizer que a tal luta tem de ser global e o acordar colectivo.

É bom ler-te.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Claro que tem que ser globakl e colectiva, não pode ser de outra maneira, mas isso não invalida o amor à pátria. Olha se conhecemos uma árvore, se a virmos cortar vamos em seu auxílio, porque gostamos dela e pertence-nos. A luta contra o capitalismo tem que ser global porque o capitalismo é global, mas conhecendo bem e amando o nosso sítio, melhor preparados estamos para nos juntarmos e lutarmos com os outros pelas mesmas causas. Amando-se o particular, ama-se o global porque melhor se compreende.