segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O TEMPO



Está tudo baralhado.
Antes, até há bem pouco tempo atrás, as pessoas a partir duma certa idade achavam que a sua época se estava a esboroar, que  o seu tempo já tinha passado porque vinham os mais novos e começavam a viver duma maneira diferente, com novos valores e novos gostos.
Hoje porém isso não acontece, pelo menos dessa forma. Já não é preciso envelhecer-se.
O mundo tal como se conhece desaparece rapidamente.
Hoje, toda a gente tem que assistir rapidamente à mudança de valores, de princípios, muito antes de envelhecer.
As fronteiras entre gerações esbateram-se.
Ninguém, por si só, já consegue influenciar positivamente o curso dos acontecimentos da sua vida.
Actualmente as pessoas entram na melancolia muito mais cedo. A depressão ameaça tomar conta da vida das pessoas cada vez mais jovens.
Têm muito tempo para pensar, demasiado tempo para não fazer nada. As aspirações, os desejos, a esperança morrem antes do tempo.
As perguntas complicadas surgem muito mais cedo. Para quê viver? Porque os sonhos morrem?
Querem ser felizes mas parece-lhes impossível.
Hoje em dia as pessoas fazem diariamente o exercício de se libertarem da ira. Têm de se libertar de tudo e quase anular-se.
Todos ou quase todos, começam muito mais cedo a ouvir cores, a ver sons e a comer sentimentos. Os sentidos começam a mudar muito mais depressa.
Há um mundo de rejeitados da sociedade, de esperanças goradas.
Muitas pessoas, em especial, os mais jovens, têm que ter  como máxima aspiração viver no mundo, mas ao mesmo tempo não viver nele.
Têm que encontrar técnicas de sobrevivência e nem toda a gente tem capacidade para isso, em especial aqueles(as) que estão desempregados(as) há muito e não têm família para apoiar e  muitos começam a ouvir palavras por detrás das palavras.
Quando a desilusão começa a graçar e o desespero nela se dissolve e os níveis de tolerância e de esperança baixam drasticamente. Quando o tempo, velho amigo, agora transformado em inimigo dá conta do recado, já ninguém mais parece fazer o mal.
Já não são necessários os anos colocar-lhe cataratas nos olhos ou tolher-lhes as mãos, o desemprego, a dependência, o não ter direito à sua personalidade, fazem isso muito bem.
Quando as pessoas se sentem repteis, quando sentem que já não existem, quando os períodos de fraqueza tolerante deixaram de existir para passarem a ser os quotidianos, quando se sentem encurraladas num mundo escuso, dos abandonados e das esperanças goradas, então o tempo não conta para nada e deixa de existir como amigo.
 

Sem comentários: