domingo, 22 de abril de 2012

CELEBRAÇÕES

Temos que celebrar a vida todos os dias.
Ontem acabada de celebrar um aniversário, tocou o telefone a informar-me que o meu amigo Fernando Lopes dos Santos, tinha morrido. Um homem bom, generoso de quem muito gostava e gostava de mim.
Este ano começou com a  morte de pessoas que eu gosto. Preciso de alegria, ontem tive uma alegria breve, parafraseando Vergílio Ferreira, como todas as que têm ocorrido este ano.
Épocas houve em que havia abundância de mim, excesso, exagero e alegria, hoje sinto ausência. 
Não perdi o pecado ainda porque não perdi o desejo da vida, mas às vezes perco-me do caminho.
Por vezes falo alto mas não ouço. E volta a necessidade de me perguntar "o que é a existência? "Porque e para quê existimos?"
Acreditar é um acto de coragem. Já vivi o suficiente para saber que cada época tem o seu modo de explicar e de entender.
A morte de um amigo, além de nos pôr de gatas, faz-nos encarar esta verdade muito simples e muito complicada, que somos bichos diferentes, porque penso e sei  que penso, de estar viva e saber que morrerei.
Viver cansa muito. Tenho vivido um ano em que vários tipos de coisas negativas competem pela primazia, parece que a vida está a ser vivida às avessas.
Parece que há coisas que podem ser esquecidas e que outras não podem, que se instalam, que nos vão encolhendo, assim como uma espécie de traça dos livros que abrem túneis por entre as páginas, escavando arbitrariamente.
E há tantas coisas dentro de nós que cá vão permanecendo latentes, porque só as pequenas coisas acabam por ser ditas, ao fim e ao resto.
Há gritos que se pensam, que esperam, que observam dentro de nós.
Há dias tão húmidos de choro, de lágrimas não choradas que peixes podiam nadar dentro deles.
Dizemo-nos sempre que estamos preparados, que nos vamos preparando, mas apenas nos preparamos para estar preparados, e há dias que nem sequer temos a raiva ao nosso dispor.
Também há dias em que quero voltar a ouvir a minha história, sentada se possível e, voltar a ouvir e que  me sinto confortavelmente a morar nela.
Mas eu sei, nós sabemos que tudo muda e tudo pode mudar num dia só, e as causas essas não repousam em nenhum local, estão vivas e bem vivas.
O mundo só é belo quando o vemos duma forma inocente e simples.
Vou de novo neste domingo cinzento e triste, descobri-lo com os meus óculos 3D, não o quero apanhar apenas com a rede do meu pensamento.
Prometo ao meu EU, despertar de novo e saber pensar, porque sei que não sou uma folha ao vento e que possuo refúgios dentro de mim.

4 comentários:

lua vagabunda disse...

"...Dizemo-nos sempre que estamos preparados, que nos vamos preparando, mas apenas nos preparamos para estar preparados, e há dias que nem sequer temos a raiva ao nosso dispor...."

Conheço bem estes dias. E tb ando à procura dos outros, dos com muito solinho e cheios de alegrias...

Deixo-te um beijinho muito grande e solidário.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Um grande beijo para ti e obrigada pelo carinho

Helena disse...

Tens refúgios dentro de ti e também fora, seguramente.
Beijo pelo texto (belíssimo!) e para os dias mais cinzentos.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Sim, por certo. Bj Helena