quinta-feira, 12 de abril de 2012

IDEIAS

Quero recordar o que então pensei e é-me difícil.
Ontem ao deitar-me, fiz este escrito mentalmente, mas hoje ao aqui sentar-me as imagens misturam-se com as mais recentes, as de agora, e estas alteram as antigas.
É sempre assim, transformamos as ideias ou elas a si próprias.
E claro agora já estava "pronta" para falar sobre a facilidade com que se opera uma transferência sentimental, refiro-me ao sentimento por uma ideia e não àquele que Ballester falava em Don Juan, obviamente.
Gosto de me sentar aqui a esta hora e ser pressionada a escrever, os leitores que diariamente tenho, já justificam esta pressão que sinto, mas para falar verdade, se ninguém me lesse, sentia-me igualmente pressionada.
Procuro um estilo, mas isso é para escritores a sério, e como diz a minha irmã: "o teu estilo é não ter estilo", di-lo na brincadeira/a sério, e eu lá me vou contentando com o não estilo.
Depois com todas as leituras que faço, sinto-me assim como que contaminada por vários estilos. Estou em crer que se me esforçasse por representar hoje algum estilo, de escritor mais lido, era capaz de lhe dar um jeito.
Mas repescando a minha 1ª ideia, a de ontem à noite, baseava-se numa frase que ouvi no gabinete ao lado do meu, na fisioterapia, quando uma senhora dizia à terapeuta: "sabe, acho que eles (referindo-se aos governantes) se reúnem todas as noites, para criarem a(s) medida(s) do dia seguinte. Todos os dias somos surpreendidos com mais medidas. Só pode ser assim que acontece".
A propósito desta frase lembrei-me da falta de memória dos políticos, quando se encontram na oposição a contestar as medidas governativas e do que fazem como governantes instalados, parece que sofreram dum tratamento por choques eléctricos que os fez perder completamente a memória.
Pensei escrever sobre a ausência da maturidade ética do indivíduo, que se calhar ainda é mais importante que qualquer política partidária, já que noutros países (poucos) com outros sistemas políticos isto não acontece, pelo menos de forma tão acentuada.
E lembro-me do "Deus das Moscas", primeira ideia que tive ontem, nesse livro William Golding fala da maldade intrínseca do homem. É uma fábula onde "o ser humano segrega o mal como as abelhas o mel".
A ideia de hoje misturou esta com os noticiários da TV a que fujo a sete pés. Não percebo porque mostram permanentemente aquilo, todas as misérias, i.é., percebo. É uma forma de me(nos) intimidarem, aliás, são formas de intimidação colectiva: "cuidadinho, senão acontece-vos  a mesma coisa".
Estas formas de informar, não são para informar, estão ao serviço dos poderes instituídos, os órgãos de comunicação social são propriedade do capital que compra os Governos.
As formas mediáticas são as grandes formas de impotência. São formas de nos mostrarem e reafirmarem que somos impotentes para mudar o mundo. E ao mesmo tempo metem-nos pelos olhos adentro coisas horríveis que nos fazem mal. Parece que estamos a ler Kafka todos os dias.
Nas obras de Kafka, que não conseguia impor-se à autoridade paterna e permanecer dependente do meio familiar, a figura do pai aparece muitas vezes associada à opressão, como aliás transparece na Metamorfose.
É uma metáfora de como o ser humano pode viver alienado da realidade, em tempos de pessimismo e desorientação. Também é uma metáfora de como a economia afecta as relações humanas.
É assim, quando começo a escrever, são tantas as ideias que concatená-las, agarrá-las é um problema, às vezes corro atrás delas, mas elas correm mais depressa e como não consigo apanhá-las todas, ficam sempre algumas soltas.

2 comentários:

Helena disse...

Essa torrente constante percebe-se bem na tua escrita.
Na tua excelente escrita!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Obrigada Homónima, és muito gentil.