quinta-feira, 5 de abril de 2012

PELE


Nem sempre o que somos ou julgamos ser na realidade, se traduz na vida que temos.
Há pessoas que estão revestidas duma pele demasiado pesada, em especial, na actualidade.
Pessoas que ficaram desempregadas e que devido à idade e à falta de empregos, não conseguem actividades profissionais satisfatórias a todos os níveis, vivendo como se tivessem uma segunda pele.
Pessoas que vivem segundas vidas, com outras realidades, uma espécie de emigrantes no seu próprio país para poderem sobreviver. Pessoas obrigadas a romperem com eventuais carreiras para se iniciarem em actividades de sobrevivência, desmotivantes quer para a sua formação académica, quer para os seus interesses e motivações.
Pessoas que são obrigadas a mudar a sua concepção mental, que rompem com o próprio ego e que passam por força das circunstâncias a viver um falso ego, um ego ilusório, no qual procuram uma cómoda e irrealista sensação de segurança. Pessoas que se confrontam com a perda de tudo ou quase tudo o que tinham e o que eram individual e socialmente.
Encontro-me no meu quotidiano com autênticas parábolas Kafkianas. Diplomados e mais diplomados que executam tarefas que não exigem aquelas habilitações académicas. Gente escravizada, com trabalhos mecanizados e horas demasiadas de prestação de tarefas rotineiras que dispensam o intelecto, à moda do que assistimos no filme "Tempos Modernos" do Charlie Chaplin.
Gente que tem vergonha de dizer o que faz, vivendo em insustentáveis autocompaixões, sozinhas, quase incapazes de suportar tanta realidade. Pessoas que se defendem, ocultando a realidade para conseguirem ultrapassar os limites que lhes são impostos.
Trancam-se, suspendem-se com receios ainda maiores e muitas até com medo de sonhar.
Pessoas que não são felizes, porque quase obrigadas a uma meta-linguagem do seu corpo.
Pessoas com duas peles, uma que os transcende, e que se obrigam a traduzir nas duas.
Há quem oculte as suas verdadeiras preocupações e estimule as fantasias sexuais.
Os prazeres proibidos evitam muitas vezes neuroses profundas.
Há ainda uma elite que apesar de tudo, consegue ainda inventar  para tornar menos chata esta vida.
Há coisas extraordinárias a acontecer e pessoas que noutros contextos, brilhariam, ficam em geral, no mais profundo desconhecimento.
Ainda há uma dúzia de anos ou menos até, todos nós beneficiávamos de esclarecimentos essenciais para depois aceitarmos ou rejeitarmos.
Sabíamos de onde vínhamos e com base no caminho feito, especulávamos com alguma garantia, ao saber onde estávamos, para onde as coisas poderiam ir. Agora são equívocos, atrás de equívocos; não há  balizas para nada.
Ninguém sabe qual a sua "missão" neste mundo, a não ser aqueles que se empregam na política com direito a reformas chorudas e antecipadas.
A maior entidade empregadora neste país é a política, emprega milhares de pessoas, desde autarcas a Presidentes da República, aliás até escolas têm, as diversas Jotas.
PELES que se protegem ou não.

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