segunda-feira, 9 de abril de 2012

SENSAÇÕES


Fiquei satisfeita com as 64 visitas de ontem ao meu escrito, ainda para mais depois de ter andado a ler crónicas de gente que escreve mesmo bem e achar que os meus escritos, só têm uma virtude, a sinceridade do momento. Naquele momento senti e pensei daquela forma. Começo lentamente a pensar, depois embalo. Normalmente não revejo, aliás quase nunca, senão refazia tudo e seria um outro escrito e não aquele e, o meu prazer é mesmo escrever o momento. Sentar-me aqui e deixar fluir o pensamento, mesmo que só faça sentido naquela altura. Se alguém da minha família ou dos meus amigos quiser um dia ler-me quando eu estiver já no outro lado, vai saber o que pensei e senti naquele dia, àquela hora.
Claro que agora desabafo publicamente, o que no passado não fazia, apenas para um caderno iam os meus pensamentos e continuo sem perceber esta urgência de desabafar publicamente, a não ser mesmo porque  considero que muita gente sente como eu e ilumino certos abismos, embora como dizia Roland Barthes em "A Câmara Clara", "uma foto é sempre invisível: não é a ela que nós vemos", também me pareço com todas as pessoas, excepto no facto de me parecer com elas.
Quando me sento aqui, ao computador sei, como Calvino, que a vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objectos, um catálogo de estilos onde tudo pode ser continuamente remexido e ordenado de todas as maneiras possíveis.
Li há tempos no jornal que um indívíduo que ficou desempregado, ganhou coragem e escreveu um livro, livro que foi premiado quando o levou a concurso.
Nunca tinha escrito nada, foi ler nos outros escritores as técnicas utilizadas e começou a escrever. Escreveu mil e tal páginas que depois reduziu para 300 quando se dispôs a levar a concurso o seu romance.
Fiquei maravilhada com o que este homem fez. Sobreviveu a um ano de desemprego desta forma e ainda por cima, sabia que o romance tinha qualidade para concorrer.
É em pessoas como esta, possuidoras de uma sólida vontade que eu acredito. É com estas pessoas que o mundo avança e não com os cínicos que juram por uma coisa e acreditam noutra ou naqueles que vivem a ver o que podem roubar para terem dinheiro sem trabalhar muito.
Não gosto de empreiteiros, nunca gostei de mestres de obras promovidos que se tornaram exemplos a seguir para tudo.
Não gosto só de gente útil, de coisas úteis.
Gosto da filosofia e da arte.
Gosto do amor. E como diria Florbela Espanca "Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: aqui...além... Mais Este e Aquele,  o  Outro e toda a gente... Amar! Amar! E não amar ninguém!
A arte liberta-nos, enquanto assistimos a um drama, lemos um livro, observamos um quadro, não são os nossos males que sentimos, descentramo-nos de nós.
Quando leio poesia ou filosofia fico com uma visão prática do mundo, perco ilusões.
Quando ouço pessoas que convictamente dizem não ter tempo para nada, nem para ler, penso: esta gente não vive, vegeta-se, murcham-se alegremente.
Os mesmos que dizem isto, são os que passam horas e horas em frente à televisão a preparar-se para existir.
Penso na aversão pelo esforço que foi inculcada a esta gente.
Lavam-se todos os dias, mas não lavam o destino que dão a si  mesmos.
Não querem estar em desacordo consigo mesmos, por isso é que nunca estão de acordo e volto a mim e à tendência para ser a seguir outra coisa, uma impaciência da alma consigo mesma, um desassossego sempre crescente, como diria Pessoa.
Fernando Pessoa estudava o seu psiquismo através da forma como os outros o encaravam. Uma inutilidade absoluta.
Eu reconheço a realidade como ilusão e vice-versa, igualmente inútil.
No entanto, há uma coisa que ele dizia com a qual me identifico, às vezes, "a renúncia é a libertação. Não querer é poder".
Se não quisermos ser ricos, somos poderosos, por exemplo.
Se eu me der a mim o que preciso, não preciso do que os outros me dão, digo eu. Mas também só penso assim de vez em quando.
Só sei que concluo muita coisa, para desconcluir muitas outras.
E por fim, vou confidenciar-vos mais um segredo: Sei ser educadinha, cheia de gramaticais gentilezas resolvidas, quando as pessoas e as coisas nada me dizem, quando permanecem aborígenes desconhecidos.
Mas o que eu desejo mesmo é deixá-los falar, falar e só muito depois saltar-lhes em cima.
E assim me vou inventando todos os dias, inventando a não fazer nada, a criar a única verdade em que acredito, a inventada.

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