segunda-feira, 16 de abril de 2012

REFLECTINDO SOBRE LIBERDADE

Sou livre se consigo chorar.
Não é fácil viver, como todos sabemos, no entanto há momentos em que nos tornamos peritos.
Sou livre se me pareço com um sibarita, um intelectual da renascença, podendo entregar-me ao divino prazer de sonhar.
Sou livre se tenho dinheiro no bolso, nem muito nem pouco, o suficiente para que não me faça pensar nisso.
Sou livre se as doenças não falam comigo e me obrigam a falar com elas.
Ser livre  é ter aquele sentimento de que nada me faz falta em demasia, nem a comida nem o estômago, numa palavra.
Ser livre é ser-se completo, no sonho, no amor, no desejo.
Podermos ser nós, sem representações de nós e andar sempre de prevenção, coibindo-nos de simular os próprios sentimentos, i. é, de os sublinhar ou de os recordar.
Ser livre era não me preocupar  muito com o que estivesse para vir.
Ser livre é quase como ser feliz, não tem história. Quando se é feliz não se faz romance, quando se é livre também não.
Ser livre é não ser submisso, é ser-se independente, mas aqui é que começa o busílis. Quem é que é verdadeiramente independente?
A liberdade tem sempre limites. Vivemos em sociedade e as sociedades têm leis, logo a nossa liberdade é sujeita a leis e aos limites  que estas lhes impõe,  para sermos verdadeiramente livres temos que querer apenas o que podemos, não exigirmos mais à vida do que podemos.
Quanto mais respeitamos a liberdade dos outros, mais livres somos.
De facto, só podemos ser livres se deixarmos que os outros o sejam, se formos livres da opinião dos outros.
Falar de liberdade, tema que ontem foi sugerido, não é nada fácil e ao mesmo tempo, facílimo, já que toda a gente sabe o que é  e, difícil de explicar por qualquer um de nós.
A liberdade é um substantivo abstracto, mas ao mesmo tempo muito concreto, é um constructo, como a inteligência.
Liberdade é um conceito muito caro a toda a gente. Toda a gente quer ser livre, embora todos nós tenhamos noções diferentes de liberdade, logo não deixa de ter uma carga muito pessoal.
Lembrei-me agora do "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley em que os nossos sonhos e as nossas esperanças foram domesticados, controlados, medicados. Os outros tomaram conta de nós. Isto é exactamente o contrário da liberdade e recordo como certos conceitos são bem mais fáceis de definir pela negativa do que pela positiva.
Mesmo para nós adultos, "normais" (refiro-me à média e moda estatísticas), que adquirimos o período operatório concreto e noções abstractas, segundo Piaget, é-nos difícil definir o substantivo.
Torna-se mais fácil, bastante mais, fazer comparações. Aquele é mais livre do que.... à semelhança do que fazemos na maior parte das vezes com a inteligência. Fulano é mais inteligente do que Sicrano ou então encontrar-lhe os limites como fez Victor Hugo que disse que a liberdade começa onde acaba a ignorância ou ainda defini-la de dentro para fora como o fez Jean-Paul Sartre: "Estou condenado a ser livre. Isso quer dizer que nenhum limite para a minha liberdade pode ser estabelecido, excepto a própria liberdade".
Mas observá-la e defini-la de fora para dentro e simultâneamente de dentro para fora é bem mais difícil.
Convicta estou, que uns a recebem de fora e outros de dentro. De qualquer das maneiras, a liberdade nunca é somente exterior, ao vir de fora torna-se vivência mais íntima e vindo de dentro, torna-se acontecimento externo.

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