domingo, 1 de abril de 2012

A INVENÇÃO DO NADA

Deixem-me trabalhar dizia ainda há pouco tempo o PR.
Lembrei-me desta frase, desta maravilhosa frase e lembrei-me de tantos milhares de portugueses que gostariam de dizer o mesmo.
Há tantos, mas tantos portugueses que têm que inventar não fazer nada que é o trabalho que têm neste momento "inventar não fazer nada".
Não é a vida um progresso feito de acasos, coincidências e vontade firme?
O que queria que o deixassem trabalhar ajudou grandemente a que outros, nada fizessem, ajudou no retrocesso e continua a ajudar porque continua num plano inclinado da aldrabice.
Hoje, diariamente, milhares de pessoas têm que delinear um plano de conduta a comprometerem-se perante si mesmas, todos os dias.
Têm que desaprender aquilo que aprenderam, impotentes que estão face ao que as rodeia.
Há uma enorme desproporção entre as esperanças postas no futuro e os seus resultados exactos.
Quando um jovem encontra um emprego, julga ter encontrado o oásis neste enorme deserto das suas existências, quando devia ser um direito.
Este tempo em que os capitalistas e pró-capitalistas de todos os matizes colocam os jovens e os menos jovens em banho-maria para que o efeito seja eles contentarem-se com pouco, porque o sonho já se foi e então estão prontos a conformar-se.
Tantas vidas adiadas.
Quando as pessoas já estão fora da moldura dos seus sonhos, depois de terem aturado tudo e todos.
E as pessoas vão cedendo pela força das circunstâncias e vão sofrendo resignadas e vão-se habituando, como os aleijados, se habituam a um aleijão.
Os governos não possuem o dom de entender psicologicamente as profundezas do drama alheio, raciocinam em número.
As pessoas ficam incompletas, truncadas dos seus sonhos, do desejo de serem felizes e ainda há quem se aproxime para lhes fazer sentir uma culpa pela sua existência.
É a um verdadeiro SAQUE a que estamos a assistir e alguns, milhões continuam impávidos e serenos a assistir a este amputar de vidas.
Estes inventores do nada vivem quase reclusos, recatados para evitar confidências que os possa sobressaltar.
Vivem tristes.
É uma verdadeira aberração, um desperdício total que estamos e vamos pagar caro, muito caro, milhares de jovens, na força da vida, não estarem a produzir para enriquecer o país.
Onde se viu querer empobrecer um país. a única coisa que devemos desejar é enriquecê-lo, engrandecê-lo, não à custa dos empréstimos, nem duma maneira artificial, mas à custa do trabalho e do bem colectivo.
Como é possível, governantes pensarem, quanto mais dizerem, que este povo viveu acima das suas possibilidades?
Um povo pacato e trabalhador, que tira à boca para dar aos ricos, que apenas assiste diariamente aos seus roubos que lhes são perpetrados  e a nada acontecer aos te tudo têm, a um povo que qualquer dia não sabe o que é justiça, nem sabe distinguir o bem do mal.
Toda esta gente tem que inventar um destino.
Tornam-se doentes alguns para serem importantes e quase como último estado da tristeza.
Há no entanto um sentido mais afinado do cidadão comum, mas são raros os que demonstram.
A censura pessoal e oficial começam a ser medonhas, a invadir toda a paisagem.

4 comentários:

lua vagabunda disse...

Que magnífico artigo!!!

Apetece "copiá-lo" e levá-lo para toda a parte!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

ó MINHA QUERIDA, POR QUEM SOIS, LEVA-O PARA TODO O LADO, ELE É TEU. OBRIGADA MANELA

Helena disse...

É! Concordo com a Manela.
Um excelente texto!

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

Obrigada Homónima. Beijinho