quinta-feira, 19 de abril de 2012

O ECLETISMO


O ecletismo é a tendência natural de uma cultura livre nas suas escolhas.
Para se ser eclético não se pode nem se deve ser preconceituoso ou aderir apenas a um estilo.
Para se ser verdadeiramente ecléctico é necessário conhecer muito, ter lido e visto muita coisa e não nos apropriamos apenas duma abordagem, seja ela filosófica, artística, doutrinária ou o que quer que seja.
Para ser ecléctico é preciso saber discernir entre o verdadeiro e o falso que cada teoria encerra, entre os inventores das utopias e os moralistas.
Não me proponho falar aqui do eclectismo como estilo preferido da grande burguesia, nem do eclectismo na História.
Não tenho saber científico para isso, apenas peguei no termo, digamos, duma forma jornalística, popular se quisermos.
Há uma tendência hoje em dia para se utilizar este termo como um rótulo que se apõe a certas pessoas, de certo modo, na tentativa de menorizar alguém duma forma mais ou menos sofisticada, reconhecendo o seu ecletismo, embora... e nestas reticências ou neste embora esteja sempre a questão subjacente de quem rotula que é a "pseuda" crítica do rotulado não pertencer a uma dada  e única corrente, seja ela qual for, filosófica, artística ou ideológica, e talvez também porque em Portugal, ser ecléctico e, isso vem da história do termo, do séc. XIX e do conhecimento que se tem sobre isso, saía muito caro e só os ricos burgueses com poder económico se podiam dar a esse luxo.
Hoje em dia, continua a ser um luxo, penso eu, embora seja outro tipo de luxo, um luxo das liberdade, de não se estar "engagé".
Ser-se eclético hoje, nas ideias e no modo de vida sai muito caro igualmente, em amizades, em empregos, socialmente falando, duma maneira geral.
O eclectismo hoje para alguns é também visto, malvisto como uma perda de tempo.
Estas cortesias do coração e da razão nem sempre são bem cotadas.
Muitas vezes os ecléticos são confundidos como tendo um vazio de ideias a preenchê-los. A vida contemporânea suaviza a estética.
Sendo na arquitectura do séc. XIX e princípios do séc. XX um estilo ostentatório e bastante criticado pelos Modernistas, aquilo que hoje vulgarmente e chama de eclético, não é tanto do superficialismo desse alguém, embora e como disse logo no início do texto, venha quase sempre o adjectivo eivado de uma ponta de crítica.
Penso que ainda  assim se procede devido a certas atitudes iconoclastas por um lado e por outro, por se continuar a considerar ecléctico sinónimo de superficial.
Convicta estou que quem rejeita pura e simplesmente o eclectismo, é de facto preconceituoso.
Nos séculos anteriores devido a estas atitudes vanguardistas e referindo-me de novo, à arquitectura,um dos meus grandes interesses, muitos edifícios foram destruídos, em nome dessa ideia que considerava o eclectismo arquitectónico com ausência de valor arquitectónico.
Trata-se de atitudes meramente opinativas, pouco fundamentadas e conscientes.
Se naquela época, em especial antes dos anos 60 do séc. XX, o Eclectismo Arquitectónico representava a hipocrisia, a arquitectura das aparências, representando por consequência a sociedade das aparências, também hoje quando alguém é apelidado de ecléctico nem sempre está a ser piropado, muito pelo contrário.
Mas é assim, um aposto ou continuado, embora dum substantivo se trate, é utilizado como adjectivo e aposto para sugerir, muitas das vezes, que esse alguém perdeu a "verdade" ou não apanhou a verdade toda, porque segundo eles, a verdade é só uma, a deles e mais nenhuma.
Tudo isto vem a propósito do que assisto e vejo no Facebook, aliás como na vida.
Muita gente a copiar, lá diz-se postar o que os outros "postam" e postam tão rapidamente que nem fazem ideia da ideia que têm, sobre quase tudo, mas pelo menos pertencem ao grupo e, pertencer ao grupo como se verificou no Hino da Acção Zero Desperdício "ACORDAR" com o patrocínio da Presidência da República, composto dum leque de cantantes da direita à esquerda, já que era esse o objectivo.  Alguns cantores que lá estiveram normalmente colocam-se numa postura de intervenção cívica e política, mas parece terem preferido pertencer ao grupo e ficarem dentro desse círculo elegível para outro tipo de convites, os que são onerados e cantaram coisas como esta: "E nós que queremos ser irmãos/ mas nunca sujamos as mãos/ É uma vida decente/ Não passeio ou aguardente/O que é justo/E há que dar a toda a gente".
Estarei eu a ser preconceituosa?

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