quarta-feira, 11 de abril de 2012

OS CARNEIROS E OS MACACOS

É... continuo a falar sozinha. Quem dialogava comigo, todos os dias, emigrou para um sítio, no outro mundo que não tem telefonee  que confesso, faz muita falta.


Todos a trilhar o mesmo trilho, balando o mesmo balido, são os carneiros.
Outros são os macacos saltando no topo de mastros com esgares e cabriolas e macaquices várias.
Já desapareceu o culto do Eu, agora fala-se sempre em nós.
Neste  mundo de vanitas vanitatum = tudo é verdade, em que as ideias têm todas o mesmo valor, até no que há de mais pessoal e íntimo, como a ilusão.
O que vale ou não, é que agora não há mosteiros, senão com tantos abatidos de alma, iam todos lá parar. Agora  alguns de nós vão parar ao facebook. Aqui importa-se tudo ou quase tudo, desde a ideias a estilos, a teorias, filosofias ou estéticas e até assuntos.
É um lugar onde ser culto é muito barato.
A única coisa que não se pode fazer é merendar com companhia.
As pessoas passam todas a ser alguém e a realidade feia das coisas e da sociedade fica nua também.
Retrata-se a gente de poder distinguindo  porém os carneiros dos macacos.
É evidente que nos temos que esforçar por viver. Entre humilhados, sovados, arrasados, 6 milhões há cerca de 150 anos atrás, somos cerca de mais 4 milhões hoje em dia.
Nessa altura também se dizia que o país precisava de reformas. Quando a monarquia caíu também se disse que era preciso que a Nação fosse regenerada e se recuarmos mais ou avançarmos, vamos encontrar sempre os deuses de S. Bento ou numa qualquer rua, a reclamar limpeza para Portugal.
Já o Carlos de "Os Maias", lembram-se(?), olhava para a Europa e dizia que por toda a parte era uma confusão, um gachis (esta palavra nunca me esqueci desde os meus 17/18 anos, altura em penso ter lido esta Obra. Acho-a linda e curiosa, embora o seu significado não o seja) e acrescentava ele e o meu pai, quando eu a pronunciava "Oh, très grave!"
Lembram-se daquelas conversas havidas ente o Craft e o Marquês? Vale a pena reler
Quando o Sr. Salcede explicava porque em Portugal nunca se faz nada em termos.
Ontem andei a escorripichar estes cálices de bela prosa e ensinamentos psico-sociológicos de Eça de Queirós e fico sempre encantada como há 124 anos, Eça via praticamente o mesmo que nós vemos hoje, embora digamos que tudo mudou muito, o essencial não mudou.
Às vezes fico do tamanho dum protozoário quando caminho por este meu Portugal adentro, em anos, quando releio o Historia e não só a da literatura.
Nós falamos muito em "pós-modernidade" desde 198=, eu confesso desde já que continuo sem saber o que isso é, embora já tivesse perguntado à minha irmã e ela me explicasse muito direitinho, mas continuo muito "pós-moderna", embora ela insista no meu barroquismo (acho que m relação à forma ela tem razão), mas na idade que acumulo distraidamente e quando mais recentemente, me relacionei com o facebook e as suas gentes, acho que sou pós-moderna (já sei Mana,devo estar a dizer uma enorme asneira, pronto, não batas mais).
Elbert Huberd dizia que cada pessoa é estúpida pelo menos cinco minutos por dia: a sabedoria  consiste em não exceder esse limite. Eu excedo muito largamente as medidas. Mas acrescento também que quando leio fico "fina" e recordando ainda o Ega dos Maia " ainda há-de ser deputado"; "e da forma que as coisas vão, ainda há- de ser Ministro..." . É o que mais tenho visto por aí em todo o lado.


3 comentários:

Helena disse...

Li 'Os Maias' com a idade que dizes ter lido. Isto é, devemos ter lido Eça e 'Os Maias' em particular, ao mesmo tempo. O registo ficou-me muito claro, não só porque gostei muito do livro, mas também porque a minha professora de Literatura, no defunto liceu Raínha Santa Isabel, nos proibia de o ler, dizendo-nos que adequado para a nossa idade era 'A cidade e as Serras'. Logo aí testei (mais uma vez...) os efeitos das proibições: fiquei a odiar verdadeiramente o que me era obrigatório ler. De tal forma, que só perto dos 50 anos voltei à 'Cidade e as Serras' e me deixei encantar, pelo que antes tinha verdadeiramente detestado.
Eça é um manancial de citações "a propósito"...
Parece que a humanidade é muito previsível. Aqui, a do burgo, talvez ainda mais. E, no entanto, acabamos sempre por nos surpreender. Poucas vezes positivamente.

Beijo, Homónima.

lenço de papel; cabide de simplicidades disse...

No Rainha Santa? Eu andei no Rainha Santa, logo andamos na mesma altura no mesmo liceu. Tu és Maria Helena, não é? Eu sou Helena Maria, foi por causa disso que só agora nos encontramos.
Começao a acreditar no destino. Beijo Homónima

Helena disse...

Deixa-me cá ver então:
Como eu tinha alemão (blhaaaarc!) juntava-me à turma de germânicas para essa disciplina. Para o resto, segundo me lembro (e a memória é ainda mais fraca que a carne...) estava na turma de românicas.
Vê se esta 'piada' te diz alguma coisa: "Meninas, o complemento circunstancial de companhia fica a 100 metros do liceu!" - autora: professora de Literatura, diretora de ciclo, cujo nome se me varreu, felizmente, digo eu...